BRASÍLIA - O senador Renan Calheiros (PMDB-AL) foi eleito nesta
sexta-feira o novo presidente do Senado, no biênio 2013-2014, ao vencer o
rival Pedro Taques (PDT-MT) por 56 votos a 18 votos, sendo dois deles
em branco e outros dois anulados, no total de 78 senadores votantes. Ele
sucede a José Sarney, que deixa o comando da Casa pela quarta vez. O
apoio do PT e do Palácio do Planalto foi fundamental para a vitória.
Renan só teve sua candidatura formalizada a menos de 24 horas da
eleição. Há cinco anos, Calheiros renunciava ao mesmo cargo para evitar a
cassação por denúncias de uso de laranjas para comprar empresas e uso
de lobista para pagar despesas particulares.
Logo após a proclamação do resultado por Sarney, Renan fez um rápido
pronunciamento ao assumir o cargo e agradeceu aos que nele depositaram
confiança, aos parlamentares do PMDB e fez um agradecimento especial ao
político maranhense.
— Foi ele (Sarney) que nos conduziu da escuridão da ditadura para a liberdade democrática — afirmou.
A sessão para a escolha do novo presidente do Senado foi aberta na
manhã desta sexta-feira pelo ex-presidente José Sarney (PMDB-AP). O
bloco dos senadores que fizeram oposição à candidatura de Renan
Calheiros optou por discursos comedidos, evitando citar as acusações
contra o favorito à Presidência do Senado. O clima no plenário nas horas
que antecederam a votação para a escolha do novo presidente foi de
moderação, atitude adotada por parlamentares que já sabiam, de antemão,
que teriam Renan à frente da Casa pelos próximos dois anos.
No mesmo dia da eleição em que Renan saiu vencedor, a Revista ‘Época’
revelou que o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, denunciou o
senador ao Supremo Tribunal Federal (STF) por peculato (desvio de
dinheiro público, 2 a 12 anos de cadeia), falsidade ideológica (1 a 5
anos) e uso de documento falso (2 a 6 anos). O conteúdo da denúncia
ainda não havia sido divulgado.
- Se fizermos um exame de consciência, podemos ver que temos o
sentimento de uma necessidade de renovação – afirmou o senador Cristovam
Buarque (PDT-DF), que defendeu que essa renovação estava na candidatura
do senador Pedro Taques (PDT-MT).
Pedro Simon (PMDB-RS) disse que o senador Renan Calheiros deveria
renunciar à candidatura. Ele destacou que a posição do peemedebista
dificultava a decisão dos senadores, já que ele está sendo denunciado.
- O procurador fez uma denúncia ao STF. E está na mão do presidente do
STF denunciar o presidente do Senado por uma série de crimes. Seria o
caso de suspender essa sessão? Esse confronto de o Senado eleger um
ilustre senador que está sendo processado. Ele se elege hoje e na quarta
ou quinta-feira o presidente do Supremo aceita a denúncia e começa um
processo. E automaticamente ele será processado aqui e se começa tudo de
novo – afirmou Simon, relembrando a renúncia de Renan em 2007, à
presidência do Senado.
- Não tenho intimidade com Renan, temos estilos diferentes. Se eu
tivesse intimidade com Renan, eu diria “não te mete nessa”, é muito mais
importante para ti ficar na liderança – disse Simon.
Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), que havia apresentado candidatura para a
presidência do Senado e abriu mão em favor de Taques, destacou que havia
pleiteado concorrer ao cargo em protesto.
Defesa por Renan
Por outro lado, a candidatura de Renan foi defendida enfaticamente por
Lobão Filho (PMDB-MA) e Fernando Collor (PTB-AL). Lobão Filho criticou a
Procuradoria-Geral da República (PGR), afirmando que o órgão deixou
para fazer uma denúncia contra o peemedebista na semana em que se elege o
presidente do Senado. Ele também defendeu a proporcionalidade e o
“direito” do partido de ter o cargo da presidência da Casa.
- Eu acho que nosso partido fez a escolha correta. O PMDB não está
usurpando o direito de ninguém. É um direito do PMDB – disse Lobão
Filho.
No discurso mais raivoso em defensa do conterrâneo e ex integrante da
chamada "Turma de Alagoas", o senador Fernando Collor chamou, da tribuna
do Senado, o procurador-geral da República de "chantagista" e
"prevaricador". Na sua cruzada contra o procurador, Collor aproveitou a
sessão para pedir celeridade na tramitação da representação que
apresentou contra Gurgel, acusando-o de prevaricação.
Ao falar da denúncia pedida por Gurgel contra Renan, Collor disse que
ele não tem autoridade moral para apresentar denúncia contra qualquer
parlamentar.
- Esse senhor (Gurgel) é um prevaricador, um chantagista, sem
autoridade moral para colocar um senador numa situação constrangedora -
discursou Collor bastante irado.
Ele reclamou do fato de Gurgel ter apresentado a denúncia contra Renan num sábado, véspera da eleição de Renan.
- Alguma orquestração está por trás disso tudo - reclamou, completando:
- Como tem autoridade moral para apresentar denúncia contra um senador
que já foi julgado e absolvido pelo Senado Federal?
Já o senador Vital do Rêgo (PMDB-PB) elogiou Sarney, a quem ele atribui
melhorias na transparência na Casa. Ele também exaltou seu partido e
defendeu que, pelo tamanho da legenda, em respeito à proporcionalidade,
Renan deve ser o escolhido:
- Meu companheiro, meu amigo, dileto e fraternal senador – disse Rêgo sobre Renan.
Rodrigo Rollemberg (PSB-DF) afirmou que seu partido iria apoiar a
candidatura de Taques. Ontem, o presidente do PSB e governador de
Pernambuco, Eduardo Campos, tentou lançar a candidatura de Antônio
Carlos Valadares (PSB-SE), mas depois abriu mão e anunciou apoio a
Taques.
- Temos uma posição unânime, vamos votar no Pedro Taques, pois
entendemos que ele é quem representa as aspirações do povo brasileiro –
afirmou Rollemberg.
Também do PSB, João Capiberibe (AP) levou à tribuna denúncias contra Renan.
- Temos dois candidatos, um velho, desgastado, com telhado de vidro. E
outro que representa a mudança e oxigenação do Senado – disse.
Força de Renan Calheiros
No mesmo palco em que os senadores ignoraram as denúncias que envolvem
Renan Calheiros reconduzindo-o à presidência do Senado, há cinco anos o
senador alagoano jogou a toalha: acossado por denúncias de uso de
laranjas para comprar empresas e uso de lobista para pagar despesas
particulares, renunciou á presidência do Senado durante sessão de
julgamento para perda de seu mandato. Entregou a presidência e salvou o
mandato com a derrubada do parecer do falecido senador Jefferson Péres
(PDT-AM) que pedia sua cassação. Desde então, trabalhou dia após dia
costurando acordos para retomar o posto.
Passados esse cinco anos, Renan volta com força total, com apoio da
presidente Dilma Rousseff, do ex-presidente Lula, dos partidos da base
governista e até de José Dirceu, condenado como chefe da quadrilha do
Mensalão pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Como agora, em que enfrenta três inquéritos para apurar uso de notas
frias e crime contra o meio ambiente, no dia 04 de dezembro de 2007
Renan encerrou quase três anos de duas eleições consecutivas para
presidir o Senado. No ato da renúncia, disse que saia sem mágoas ou
ressentimentos, de cabeça erguida.
- Não adotei este gesto antes pois poderia sugerir, naquele momento,
uma aceitação das infâmias e inverdades. Desculpem-me se essa
interpretação não pareceu a mais conveniente, mas agi de acordo com a
minha consciência, convicto de que era a conduta mais correta. Meu
pensamento, nesta hora difícil de minha vida, volta-se para o povo de
Alagoas, que, com sua confiança e soberania, me investiu do mandato de
Senador da República, de que tanto me orgulho - disse Renan em sua
despedida do cargo.
Fonte; O Globo
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